Uma entrevista da atriz Dakota Johnson ao jornal The Wall Street Journal, na semana passada, repercutiu por causa do padrão de sono da artista. A protagonista de Cinquenta Tons de Cinza declarou que “não é funcional” se dormir menos de 10 horas por noite. Disse que o sono é a sua “prioridade número um na vida” e que a quantidade ideal é 14 horas.
Existem, sim, pessoas que por predisposição genética precisam dormir mais de 9 horas e meia por noite. Na medicina, eles são chamados de grandes dormidores.
A biomédica Monica Andersen, diretora de ensino e pesquisa do Instituto do Sono e professora da disciplina de medicina e biologia do sono do Departamento de Psicobiologia da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), explica que cerca de 80% dos adultos necessitam de 7 a 8 horas de sono por noite.
No entanto, uns 20% dividem-se meio a meio entre grandes e pequenos dormidores. O último caso é daqueles que se sentem dispostos com até 6 horas e meia de sono.
Doenças associadas ao excesso de sono
A biomédica ressalta que entender as necessidades de sono dos dorminhocos é um desafio. O tema é pouco estudado, em comparação com aqueles que dormem menos do que precisam. “Algumas pessoas são geneticamente predispostas a grandes dormidoras. No entanto, outras podem dormir excessivamente devido a doenças que interferem no padrão de sono”, afirma ela.
Um transtorno que pode levar alguém a dormir além da conta é a depressão. Outro é a hipersonia, uma condição que causa sonolência excessiva e é definida pela incapacidade de se manter acordado e alerta durante o dia. “Essas pessoas podem dormir 14, 15 horas por noite, mas têm uma qualidade de sono ruim”, explica Monica Andersen.
A hipersonia é uma condição rara, exceção nos consultórios. “É diferente daquele indivíduo que tem predisposição genética e espontaneamente sempre dormiu 10 horas por noite. Quando era adolescente, essa pessoa preferia dormir a ir a uma festa”, exemplifica.
O sono é um estado fisiológico essencial para a saúde e o bem-estar. Ele é dividido em dois grandes estágios: o REM (Rapid Eye Movement), no qual ocorrem os sonhos, e o não REM, subdividido em N1, N2 e N3. A maioria das pessoas passa cerca de 45 a 50% da noite no estágio N2.
A biomédica explica que, independentemente do tempo total de sono, o padrão dessas fases permanece consistente.
Na sociedade contemporânea, a maior parte das pessoas dorme menos, não mais do que deveria. Monica Andersen enumera alguns problemas associados à privação de sono: doenças metabólicas, diabetes, disfunção sexual, transtornos mentais, divórcios, distúrbios de pele, obesidade e acidentes, por causa da menor atenção nas estradas.
A biomédica enfatiza a importância de respeitar a individualidade do sono. “Se uma pessoa é naturalmente uma grande dormidora, tentar ajustar seu sono para se adequar a normas estabelecidas pode ser prejudicial. Cada pessoa deve valorizar seu sono, respeitando sua natureza e necessidades individuais”, diz.
Segundo ela, dormir 20 minutos a menos do que o corpo precisa pode ter um impacto significativo na saúde, seja para quem dorme 6, 8 ou 10 horas.